Saga grupo 2
Não obstante, os imprevistos não perduraram para além do necessário, e mesmo o pequeno garoto havia logrado algum sucesso em suas ações. Detinha, agora, um saco de ossos muito maior do que ele para defender-lhe de todos os brutamontes que o cercava.
Dentre tantos macacos abobalhados, pelo menos dois deles interagiram diretamente com Morty. Um deles com o talento de se tornar um lagarto de fogo e esmeralda; já o outro projetava manoplas gigantes para além de seu corpo, e com elas parecia deter algum controle sobre o ar.
Mas foram as palavras do homem-dinamite que mais despertaram o interesse de Morty, pois a mera menção a uma praia infestada de cadáveres foi o suficiente para fisgar inteiramente todo o interesse do rapaz, que em pouco tempo esqueceu completamente seus planos de seguir floresta adentro. Mesmo a presença de Lorenzzo, única figura familiar de outrora, não poderia competir, pela atenção do rapaz, com o que estava por vir.
Seus olhos brilharam frente às possibilidades, ao passo que a euforia lhe fazia soltar gritinhos histéricos de felicidade. Afetado como apenas uma criatura bipolar haveria de ser, ele se preparou para precipitar-se em direção ao cara-das-explosões, interrompendo-se somente quando se desse conta da árvore frutífera que germinava próxima a ele, através doss poderes de uma das integrantes do grupo.
Morty era sujeitinho ansioso, porém nada burro, por isso sabia calcular perfeitamente suas prioridades. Dessa forma decidiu correr para o pomar, e dele recolheu algumas boas frutas para levar consigo – não sabia se teria outra oportunidade de estocar algum grau de comida. Para isso, ele usaria suas habilidades a fim de criar uma bolsa de sombras, funda o suficiente para armazenar uma quantidade razoável de alimentos.
– Eu até te faria carregar um bocado, mas preciso das suas mãos livres para me defender, caso eu precise. – Falou ao esqueleto revivido. – Você precisa de um nome também. Que tal Papanicolau? Soa legal, né?
Se seus planos ocorressem como planejado, Morty se deslocaria em direção à praia com Papanicolau em seu encalço, mantendo a mochila de sombras flutuante ao seu lado. Para além disso, com o advento da garoa, que agora lhe tocava a pele como balas de água, Morty convocaria seu Doppelman uma vez mais, na esperança de que ele pudesse lhe impedir de ficar encharcado. Seu intuito não poderia ser mais simples: revestir-se-ia com a sua própria sombra, metamorfoseando-a em capa e capuz.
Caso chegasse à praia, observaria o cemitério com verdadeiro regozijo – tantos corpos ao seu dispor era um verdadeiro banquete para o jovem necromante. Dirigir-se-ia para o meio deles com ligeireza, mas mantendo a prudência a fim de não se esbarrar com mais problemas. Faria, portanto, uso de seus talentos furtivos para manter-se alheio a imprevistos, bem como afiaria a própria percepção para que não fosse pego desprevenido por potenciais ameaças.
– Cuidado com as extremidades. – Alertaria qualquer outro que fosse suficientemente idiota para acompanhá-lo até a praia. Morty evitaria pontos que julgasse perigosos, como o mar e o manguezal, e focar-se-ia em tentar depositar suas nove sombras restantes nos maiores cadáveres que encontrasse pela areia.
“Tesouros.”
“Queremos tesouros.”
“Busque o precioso.”
– Que porra cês tão falando? – Inquiriria, contrariado, às vozes em sua mente. Morty não fazia ideia se, em sua cabeça, imperava fantasmas ou traços de uma loucura contida, mas entendia que as vozes o lembravam constantemente de coisas importantes que ele eventualmente esquecia. O homem do holograma havia dito algo sobre bens preciosos esquecidos na ilha, ponderou por acaso, e Morty supôs que alguma parte daquelas carcaças poderia se enquadrar nesse contexto.
Por via das dúvidas, trataria de recolher algumas partes que julgasse mais interessantes; se não para ele, decerto poderia vender para algum necrófilo esquisito no mercado negro. Recolheria o máximo que pudesse sem muito critério. Em outro momento, descartaria o que não detivesse valor algum.
Para além disso, procurou manter-se preparado para lidar com prováveis adversidades. Ao menor sinal de apuros, defender-se-ia esquivando-se de possíveis ataques, acelerando seu corpo até o limite a fim de tentar uma esquiva com acrobacias pelo ar; findaria o movimento ao projetar asas em suas costas, através de sua sombra modelada, que o mantivessem suspenso longe do chão. Também sinalizaria a qualquer outra pessoa presente, caso visse qualquer uma delas em perigo iminente.
「 R E G I S T R O S 」
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